Desde crianças, aprendemos a imaginar Deus sentado em um trono nas alturas. Os crentes oram, elevando o olhar ao céu. O segredo do Natal é que Deus desceu na noite do mundo e se fez presente em uma criança pobre, um dos últimos do mundo. Um texto bíblico reverte nossa expectativa e nos propõe: "descer ao encontro de Deus"(Cf. Hb 13, 13).

A festa do Natal não é apenas a comemoração de um aniversário. Não basta lembrar o que, de acordo com a tradição, aconteceu naquela noite em Belém. Ninguém sabe a data exata do nascimento de Jesus. As comunidades começaram a lembrar o Natal no 25 de dezembro, solestício do inverno no hemisfério-norte, para comemorar a humanidade de Deus e contemplá-lo presente e atuante no mundo.

Durante esses dois mil anos de cristianismo, nem sempre as comunidades cristãs deram um bom testemunho de Jesus. Muitas vezes, em nome da fé, a Igreja legitimou impérios conquistadores e apresentou uma imagem de Deus irascível, dominador, desumano e vingativo. Dividiu-se em centenas de grupos rivais, cada qual pretendendo ser a única e verdadeira Igreja. Bispos copiaram o modelo das autoridades religiosas do Império Romano e se proclamaram santos e revestidos da autoridade do próprio Deus que, ao contrário, se revela doação, amor e tolerância e não poder dominador. Graças a Deus, para entrar no terceiro milênio, o papa João Paulo II e com ele, pastores de muitas outras Igrejas pedem perdão por estes erros históricos e se propõem a viver a fé como serviço à paz, à justiça e à defesa da natureza.

Hoje, a miséria de milhões de seres humanos transforma o mundo em uma imensa gruta de Natal, onde vivem os pobres, cercada de shopping-centers, para os poucos ricos. Graças a Deus, mesmo no meio dessa sociedade sem coração, muita gente resiste e crê na vitória da Vida. O Natal nos confirma que Deus vem nos encontrar, não no consumismo, nem na cumplicidade com o império, mas no caminho da paz e da comunhão com o universo. Foi a mensagem dos anjos em Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra à humanidade a qual Deus quer bem"

O anjo que anunciou o Natal deu a Jesus o título de "Emanuel" que significa: "Deus está conosco" . Tanto no nível de organização do mundo, como na sua vida mais pessoal, esta presença transforma e liberta. Um primeiro passo para celebrar mais profundamente o Natal é reconhecer a dignidade e sacralidade de todos os pequeninos e pobres do mundo. O rosto de cada criança e a experiência de amor entre duas pessoas são sinais de que esse mundo tem salvação. Podemos celebrar este Natal de modo que nos torne capazes de participar da gravidez e das dores de parto da humanidade e nos alegre com a presença divina em todas as dimensões de nossa vida.

Feliz Natal!

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